terça-feira, 27 de março de 2007

Lar

Terra Estrangeira (Idem, 1995)
Dir: Walter Salles e Daniela Thomas



Revisto no pré-lançamento do Cineclube Lúcia Rocha, Terra Estrangeira conta a história de Paco (Fernando Alves Pinto), um jovem estudante que depois da morte da mãe e da crise econômica do período Collor, tenta sair do país, mas só consegue isso através de contrabando que leva para Lisboa. Lá, ele se envolve com a emigrante brasileira Alex (Fernanda Torres).

O sentimento de patriotismo e o pertencer a uma nação são recorrentes no filme, e é como se o personagem principal representasse a necessidade do povo brasileiro de reencontrar esse sentimento (isso se já o tivemos algum dia). Mas antes disso, ele é o reflexo do brasileiro que perdeu as esperanças e se desencantou com seu próprio país.

Terra Estrangeira é daqueles filmes que crescem no conceito quando submetidos a uma segunda visita. As imagens aparecem fotografadas num preto-e-branco belíssimo mesmo que retratem um momento tão deprimente da História do Brasil, quando a política econômica do governo Collor afundou o país (seria uma metáfora o navio encalhado visto ao fim da película?). Por se tratar de um momento tão infeliz, o preto-e-branco talvez denote uma tristeza pelo momento retratado, além de ser uma homenagem ao Cinema Noir.

É uma pena que Fernando Alves Pinto não consiga alcançar a mesma qualidade da interpretação de Fernanda Torres (que assim como a mãe, atua sempre bem). Destaque ainda para a ótima trilha sonora de José Miguel Wisnik. Cenas como a morte da mãe de Paco, a conversa deste com os contrabandistas numa mesa de bar, a segunda transa dele com Alex no carro e a cena em que ela canta Vapor Barato e chora ao mesmo tempo, sobreposta pela voz de Gal Costa, são primorosas, num filme não menos que isso.

PS: Depois da sessão no Cineclube, um rapaz fez um comentário pertinente sobre a obra do Walter Salles: ele percebeu nos filmes do cineasta que é recorrente os personagens estarem sempre em movimento, à procura de uma identidade, de um caminho, de um lugar. Interessante isso.

Postado por Rafael Carvalho

Vende-se um sonho

À Procura da Felicidade (The Pursuit of Hapyness, 2006)
Dir: Gabriele Muccino
Cotação: 8/10


Hollywood é alvo freqüente dos críticos de cinema por sua ávida tentativa de vender sonhos. Para muitos, À procura da felicidade é apenas mais um filme que pega carona nessa “batida” fórmula hollyoodiana e se aproveita dos dramas humanos para sensibilizar. Entretanto, o filme supera o senso comum ao evitar cenas melodramáticas como as que sempre se espera de películas do gênero.

Will Smith é Chris Gardner, um vendedor de aparelhos hospitalares; casado e pai de um filho, ele vive um momento de crise financeira e pessoal. Frustrado não apenas pelos rumos que encara nos negócios, mas também porque acredita não ter oportunidades para mostrar todo seu potencial, Chris investe num estágio não-remunerado para tentar ser um corretor na bolsa de valores de Nova York. A partir daí ele encara os mais diversos desafios para conseguir o que almeja.

Apesar de viver várias situações adversas, Will (permitam-me a intimidade) dá ao personagem um tom real e palpável com o qual é impossível não se identificar, poupando-o de forma sábia de um mar de lágrimas ao qual poderia equivocadamente se submeter e tornando as cenas intensas e emotivas, mas sem exageros.

Dividindo a cena com o pai (no filme e na vida real) aparece Jaden Smith, que encanta com seu jeito mais criança e menos ator de interpretar. A relação de Chris com seu filho, retratada inicialmente como pano de fundo do filme, torna-se o ponto forte da trama.

Pensando bem, o filme até pode não ser inovador e criativo, mas se temos a opção de comprar de Hollywood sonhos que se tornaram reais ou tiros vazios, fico com a primeira opção. Prefiro um sonho bem vendido, desses que não exponham carros, roupas ou beleza, e sim que mostrem que o caminho para a felicidade pressupõe um objetivo seguido de luta. Para quem acha que a felicidade não é um destino, não se preocupe, antes mesmo que um objetivo seja alcançado, outros aparecem, o que faz da felicidade uma eterna jornada.
Postado por Andressa Cangussú

domingo, 25 de março de 2007

Pré-lançamento do Cineclube Lúcia Rocha

Ocorreu nessa noite de sábado o pré-lançamento do Cineclube Lúcia Rocha com a exibição do filme brasileiro Terra Estrangeira de Walter Salles e Daniela Thomas (pretendo escrever sobre ele aqui nesse espaço depois). A iniciativa é extremamente louvável e logo deve estar sendo oficializada e comunicada mais abertamente.

O Cineclube vai contar com exibições abertas à comunidade e eventos reservados para os sócios efetivos, que contribuirão com uma taxa mensal inicialmente de R$ 20,00 (acredito ser esse o valor). O Cineclube ainda não tem um local exato para funcionar, mas o Teatro Carlos Jeová surge como uma provável locação.

O projeto tem tudo para dar certo e pelo que eu pude perceber, pretende ser um espaço interessante para a discussão da Sétima Arte. Acredito que aqui em Conquista há muitas pessoas interessadas nessa área, só faltava uma iniciativa como essa. O Janela Indiscreta, cineclube que completa (ou completou) quinze anos de funcionamento, só é menos acessível por funcionar na UESB, dificultando a ida de muitas pessoas para as sessões. Mas o Cineclube Lúcia Rocha é uma grande promessa, só precisa da participação maior da comunidade.

PS: Falando em Janela Indiscreta, na próxima terça-feira tem a exibição do ótimo filme Syriana – A Indústria do Petróleo, às 17:30, no Teatro Glauber Rocha.
Postado por Rafael Carvalho

quinta-feira, 22 de março de 2007

Não tem de quê

Obrigado por Fumar (Thank You for Smoking, 2005)
Dir: Jason Reitman
Cotação: 7/10


Nick Naylor (interpretado por Aaron Eckhart, visto recentemente em Dália Negra) é o vice-presidente da Academia de Estudos do Tabaco. Sua função é defender o interesse do conglomerado dos produtores de cigarro e para isso o personagem conta com um poder de convencimento nato. À eloqüência de seu discurso, se acrescenta o carisma do personagem diante do público. Obrigado por Fumar é, na verdade, uma crítica à indústria tabagista em forma de alegoria, o que torna mais prazerosa a sua apreciação.

Embora se trate de um tema polêmico, o diretor Jason Reitman cria uma atmosfera descontraída e leve, parecendo nunca se levar a sério. Os diálogos são inteligentes e rápidos, ajudados pelas performances dos atores (Eckhart, por exemplo, consegue transmitir com muita eficiência o carisma de Naylor). Ainda temos, mesmo que em participações menores, ótimos atores em cena como Robert Duvall, William H. Macy e Maria Bello.

No entanto, justamente por confiar demais na capacidade do protagonista de convencer, o roteiro derrapa em alguns momentos ao mostrá-lo por demais convincente, enfraquecendo os personagens com os quais ele se confronta, principalmente o senador vivido por H. Macy e a jornalista de Katie Holmes.

O filme ainda traz o anti-herói em sua vida pessoal. Mostra sua relação com o filho pequeno, que parece absorver os dotes do pai, o relacionamento amoroso com uma jornalista oportunista e a amizade com outros dois representantes importantes: uma da indústria de bebidas alcoólicas e outro de armas de fogo (eles se auto-denominam Mercadores da Morte). Numa cena muito interessante, Naylor chega a se vangloriar pelo fato de que o fumo mata muito mais pessoas no mundo que as armas ou o álcool.

A pontada que o filme provoca é incisiva e ao mesmo tempo sarcástica. Não vem de forma pesada, mas ainda assim incomoda, principalmente porque é cinicamente verdadeira e necessária.
Postado por Rafael

quarta-feira, 14 de março de 2007

Eu já vi isso

Déjà Vu (Idem, 2006)
Dir: Tony Scott
Cotação: 4/10


Existem filmes que só funcionam se conseguirem levar o espectador a embarcar numa viagem de loucuras que propõem. Déjà Vu é um desses filmes, mas infelizmente não conseguiu me convencer. A história envolve a volta no tempo para mudar acontecimentos trágicos. O problema não é o fato de a história ser um tanto quanto fantástica, mas de em nenhum momento parecer crível. Assim, o filme não consegue criar identificação na platéia.

Além disso, o roteiro parece bastante problemático e confuso. Pelo menos ao final, os pequenos detalhes se encaixam, embora para mim ainda exista um grande furo. Por que algumas modificações feitas no passado são evidentes e outras não, justamente a maior delas? Tem coisas que realmente não dá para engolir.

E ainda temos que aturar Denzel Washington fazendo mais um papel de policial durão que lidera as investigações como se descobrisse as pistas por passe de mágica. Portanto Déjà Vu é um filme confuso, ingênuo e que se esforça para ter um final feliz e bonitinho. Não sei por que, mas eu já vi isso em algum lugar.
Postado por Rafael

É Tempo de Glauber!


Há exatamente 68 anos, nasce na cidade de Vitória da Conquista aquele que viria a ser um dos cineastas mais importantes do Brasil. Glauber Rocha vai renovar o cinema nacional com uma proposta totalmente nova e revolucionária, que logo se expandirá pelo mundo. O projeto Janela Indiscreta juntamente com os centros acadêmicos dos cursos de Comunicação e História da UESB promovem, então, a Semana Glauber que se iniciou ontem com a exibição do filme Que Viva Glauber e vai até a próxima sexta-feira.

Além da exibição de filmes, haverá alguns seminários que tratarão da influência do artista.
Confira aqui a progração. E se possível, não perca hoje às 18h a exibição do primeiro longa-metragem do diretor baiano Barravento. Viva Glauber!
Postado por Rafael

O que esperar da sexta parte de uma seqüência?

Rocky Balboa (Idem, 2006)
Dir: Sylvester Stallone
Cotação: 8/10



Se a seqüência em questão for Rocky Balboa, iniciada em distantes 1976 com Rocky, um Lutador a resposta é simples: um filme bem dirigido e com atuação brilhante de Sylvester Stallone.

O filme mostra a vida de Rocky, agora com quase 60 anos de idade, depois de seu afastamento dos ringues. Dono de um restaurante chamado Adrian’s – nome de sua falecida esposa - Rocky ganha a vida através da fidelidade de seus clientes, que se encantam ao ouvir as histórias do ex-lutador.

Na primeira etapa da película é dado destaque ao fator emocional do personagem através de três elos com o passado: a memória de Adrian; seu relacionamento desastroso com o filho Rocky Júnior e a volta da personagem Marie (que aparece no primeiro filme). Além de dar fluidez ao roteiro e ajudar a criar um vínculo maior com os outros filmes da série, essa alternativa ajuda a fazer com que o boxe não seja o único atrativo do filme, sendo deixado para as partes finais da trama.

Apesar da boa cena de luta – filmada como uma transmissão para TV – cabe destacar que o desempenho físico não é o único obstáculo vencido por Rocky. Devo admitir que ao ver o trailer pensei que a velhice do campeão seria o único argumento encontrado para o deixar em situação desfavorável, se transformando no tema central do filme, mas o que se vê é um exemplo de que a superação dos nossos limites tem muito mais a ver com a perseverança e o apoio das pessoas que amamos – estejam elas ao nosso lado ou apenas em lembrança. São estes os principais critérios encontrados para vencer qualquer situação.

A interpretação de Stallone merece mais uma vez meus elogios. O novo-velho Rocky mantém as mesmas características do velho-novo Rocky, conseguindo diminuir (e muito) a distância entre os filmes. Jeito simples, fala arrastada, figurino pesado e rugas incomodamente reais se juntam à leveza com que o personagem é conduzido, mostrando que o ator venceu com glórias o último round da série.

Postado por Andressa

terça-feira, 13 de março de 2007

Luz, Câmera... Ação!!!

Quando os irmãos Lumière criaram o cinematógrafo há mais de cem anos, eles nunca imaginariam que uma coisa chamada Internet daria espaço para que as pessoas pudessem emitir opiniões acerca de cinema, por exemplo. E para isso não é preciso ser nenhum expert, é só ter uma idéia na cabeça e um blog a disposição.

O cinema nos alcança de uma forma única; nos afeta, incomoda, afronta, diverte... Pode até causar um julgamento negativo, mas nunca nos deixa indiferentes. A cada película somos novos indivíduos, com uma história a mais na cabeça que nos dá a chance de refletir e dividir o mundo através de nossos próprios olhos.

Portanto, a idéia deste blog não é apontar quais filmes são bons ou ruins (até por que esses conceitos são completamente subjetivos e pessoais), mas sim promover uma discussão sobre os filmes. E gostaríamos de contar com a participação dos leitores para que eles possam fazer comentários sempre que possível, bons ou maus, a favor ou contra. Afinal, a opinião do outro é sempre válida e se qualquer um tem o poder de emitir a sua, agora também tem o espaço.

Então, abençoados sejam os Lumière... E o Bill Gates também.


Postado por Andressa e Rafael