Paris, Te Amo (Paris, Je T'aime; FRA, ALE, SUI; 2006)
Cotação: 7/10
Pegue 22 talentosos cineastas de países diferentes, jogue-os na bela e apaixonante Paris e lhes peça que filmem uma curta história de amor. O resultado é um filme agradável com a maioria das histórias acima da média, principalmente se levarmos em consideração o pouco espaço de tempo que cada diretor tinha (os segmentos têm em média cinco minutos). E a própria idéia de reunir pessoas com visão e estilo diferentes com liberdade total para criar já é interessante por si só.
Composto por 18 curtas que recebem nomes de bairros e locais da capital francesa, Paris, Te Amo é um filme leve e, claro, diverso, mas que consegue se manter coeso e fiel à proposta original. As situações são as mais diversas: alegre, melancólicas, engraçadas, assustadoras. Amores se perdem, se transformam, resistem ao tempo; outros, à espera de concretização.
O filme começa mediano, mas vai se encontrando aos poucos. Montmartre abre o longa e sugere um encontro inusitado entre um sujeito angustiado e solitário com uma mulher que desmaia ao lado de seu caro. A diretora queniana Gurinder Chadha faz um jovem francês se enamorar por uma garota mulçumana, deixando clara a idéia de tolerância com a jovem em defesa de sua fé e os hábitos de sua religião. O humor irônico, inteligente e nonsense dos irmãos Coen surge com um Steve Buscemi, com cara de pateta, passando por maus bocados numa estação de metrô. Já Gus Van Sant, com muita simplicidade e sem exageros estéticos, nos dá a possibilidade de um relacionamento entre dois rapazes com uma surpresinha no fim, engraçada e interessante.
Como se trata de um filme episódico, há sempre alguns segmentos decepcionantes. Walter Salles (ele mesmo que eu adoro) em parceria com Daniela Thomas conta a luta de uma babá (Catalina Sandino Moreno) que precisa deixar seu filho numa creche para cuidar de outra criança. Ao fim, fica a sensação de que a história foi pouco aproveitada, embora seja muito bem dirigida. Mas até agora não sei como um curta tão idiota como Porte de Choisy, de Christopher Doyle foi parar aqui. O encontro entre uma modelo chinesa e um vendedor de produtos de beleza é totalmente dispensável e de mau gosto.
Maggie Gyllenhall está ótima na pele da atriz norte-americana viciada, filmada com a câmera nervosa de Olivier Assayas. Já a excelente Juliette Binoche é desperdiçada em Places des Victoires vivendo uma mãe que perdeu seu filho recentemente, numa história lúdica de superação; pena que os dois curtas não são tão bons quanto bem atuados. Lúdico mesmo é a história do mímico solitário que busca uma parceira pelas ruas de Paris e vai encontrar seu amor numa prisão. Em outro estranho ambiente, um clube de striptease, um casal em crise tenta acender a chama do amor, contando com a presença em cena dos ótimos Fanny Ardant e Bob Hoskins. Há algo de melancolicamente belo na história de um homem que precisa estar ao lado de sua mulher num momento difícil e precisa aprender a se reapaixonar por ela. Há também algo de cinicamente oculto no segmento enfocando o casal que decide se separar, mas deixa evidente o desentendimento entre ambos, mesmo que sutilmente (ótimos desempenhos de Ben Gazzarra e Gena Rowlands). Ambos os curtas são muito bem escritos, com texto elegante e enxuto. Pelo contrário, em Quartier de la Madeleine, não se diz uma palavra, mas Vincenzo Natali constrói muito bem o encontro bizarro de um garoto (Elijah Wood) com uma vampira.
Alfonso Cuarón, em um único plano-sequência, conta com simplicidade o bem-humorado encontro entre pai e filha, com direito a surpresa no final.
Place de Fêtes, do africano Olivier Schmitz, por sua vez, é um interessante quebra-cabeça cujas peças vão dando conta do encontro fatídico entre um acidentado e uma enfermeira afro-descendentes de forma tocante. Wes Craven, acostumado a filmes de terror, surpreende com a discussão da relação de um jovem casal num cemitério, com direito a fantasma de Oscar Wilde (vivido por Alexander Payne). Mas é o diretor alemão Tom Tykwer quem cria um dos melhores segmentos do filme, com um rapaz cego cuja namorada (Natalie Portman, linda) decide romper o namoro. Passa, então, por sua cabeça todos os momentos bons por que passaram juntos. Esse me fez pensar o quanto é importante dar valor as coisas que temos antes que seja tarde demais.
E para finalizar o projeto, nada melhor que o melhor. Paris, Te Amo deixa para o final uma pequena pérola, em meio a tanta coisa boa. Alexander Payne, de forma primorosa, dá vida às peripécias de uma turista norte-americana um tanto burrinha. Primeiro, com alívio cômico (é hilária a cena em que ela visita o túmulo de Sartre), além de outras tiradas inteligentes, para no fim revelar a descoberta do amor de sua personagem pela cidade de forma simples e ao mesmo tempo tocante. É a celebração do amor em seu estado mais puro.
E aí, por qual deles vocês se apaixonaram mais?
Postado por Rafael Carvalho