terça-feira, 30 de outubro de 2007

"O Céu Sobre Berlim"

Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin, 1987)
Dir: Wim Wenders


Cidade dos Anjos é um exemplo de filme que se enquadra no quesito comercial, tem seus defeitos, mas sempre me tocou. Tive, entretanto, a chance de assistir Asas do Desejo, filme que originou Cidade dos Anjos, e que boa surpresa! É uma belíssima obra, sensível, profunda e supera seu sucessor em todos os aspectos.

Desde a primeira cena somos levados a mergulhar nos pensamentos de diversas pessoas, o que inicialmente pode ser tedioso, mas que com o tempo se revela uma grande arma de reflexão do filme. Às vezes os pensamentos são tão densos que me vi pausando o filme pra pensar um pouco mais sobre o que tinha acabado de ver.

A fotografia é maravilhosa e o jogo realizado entre o preto-e-branco e o colorido é um grande trunfo utilizado para dar dimensões diferentes à vida de um anjo – eterna, mas sem cor - e a dos seres humanos – finita e cheia de problemas, mas com sensações inegavelmente coloridas.

A história de amor, que em Cidade dos Anjos parece ser o único elemento da história, aqui é trabalhada de forma mais sutil e intercalada com vários momentos dos anjos que acompanham os pensamentos das pessoas. Destacam-se os pensamentos de um senhor bem idoso chamado Homero, que todo o tempo desabafa a impossibilidade de contar suas histórias, já que agora todos preferem lê-las – homenagem clara ao Homero grego.
É também Homero que, dentro e fora da biblioteca onde se passam vários momentos do filme, faz reflexões acerca de Berlim, cidade onde se passa a história. A cidade, fortemente atingida por ter sido palco da Segunda Guerra, é mais um dos ricos temas desenvolvidos na película. Em algumas cenas, inclusive, são exibidas partes de documentários que retratam a guerra e a Berlim pós-guerra. Mais um elemento que ao encontrou espaço na adaptação hollywoodiana.

O amor impossível se torna apenas uma metáfora uma vez que, através da escolha feita pelo anjo entre a imortalidade e a humanidade, Wenders desenvolve a principal temática do filme: o conflito humano.

É triste ver como Cidade dos Anjos não captou a essência de Asas do Desejo... Após ver Asas do Desejo, a única forma de pensar em Cidade dos Anjos como menos que um desastre é encará-los como filmes completamente independentes. Se é que isso é possível.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Lendo...

Os cineastas (2002)
Roberto D'Avila
Editora: Bom Texto


Seja por gosto, seja por uma razão cultural, ou até mesmo pela dificuldade de acesso, nos acostumamos a conhecer de forma mais aprofundada o trabalho dos cineastas de qualquer lugar do mundo que não o Brasil.

O cinema brasileiro vem passando por um processo de afirmação e isso, de fato, é muito positivo. Entretanto, há aqueles que já marcaram a história e que não podem ser esquecidos, mesmo que produzam (ou tenham produzido) filmes de qualidade questionável.

Por isso me interessei pelo livro Os cineastas, no qual Roberto D'Avila entrevista Nelson Pereira, Cacá Diegues, Bruno Barreto, Zelito Viana, Hugo Carvana e Walter Salles. Além das entrevistas, há uma breve biografia de cada um, assim como suas filmografias, fotos dos bastidores e de cenas dos filmes.

PS: Obrigada pelo livro meu bem...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Uma novela a menos, um filme a mais

De volta depois de semanas de computador quebrado e 4 dias de viagem...

O Primo Basílio (Idem, 2007)
Dir: Daniel Filho



O Primo Basílio foi uma grata surpresa. Apesar de ter trazido poucas novidades em sua construção, Daniel Filho conseguiu realizar a difícil tarefa de dar um ar de filme a uma das produções Globais. Tal comentário deve soar absurdo aos que ainda não tiveram a chance de assistir a película e se deparam com um elenco mais que novelesco: Fábio Assunção, Débora Falabella e Reinaldo Gianechinni.

A força da narrativa está, entretanto, numa atriz ainda não citada. Glória Pires dá um show de interpretação e faz uma vilã livre de tipos, que incomoda pela situação em que se encontra e não por ser uma pessoa maquiavélica, como costumam ser os “melhores” vilões.


A adaptação, de forma geral, é fiel à obra de Eça de Queiroz, mas não há dúvidas de que todo o lirismo se perde na passagem para a telona. Uma das partes mais prejudicadas é o final, que parece ser jogado de qualquer jeito, apenas para que o filme possa terminar, não transmitindo sequer um pouco de emoção – efeito causado também pela fraca atuação de Gianechini que não atrai nenhuma simpatia para sua personagem, quem dirá pena.
As cenas de sexo não me agradaram, principalmente pela falta de envolvimento afetivo das personagens. É claro que o desejo está presente no adultério, mas a personagem Luísa é marcada, sobretudo, por um romantismo cego e exacerbado que definitivamente não foi revelado nessas cenas.
Os efeitos de câmera estão lá, mas parecem gratuitos, o que pra mim soa ridículo e uma tentativa desesperada de dar movimento ao filme.

Tropeções à parte, O Primo Basílio superou as minhas expectativas, mesmo porque elas eram baixas. Continuarei não sendo fã do trabalho de Daniel Filho, que sempre me pareceu um cineasta intermediário, mas um pouco de superação não faz mal a ninguém.