
Desde a primeira cena somos levados a mergulhar nos pensamentos de diversas pessoas, o que inicialmente pode ser tedioso, mas que com o tempo se revela uma grande arma de reflexão do filme. Às vezes os pensamentos são tão densos que me vi pausando o filme pra pensar um pouco mais sobre o que tinha acabado de ver.
A fotografia é maravilhosa e o jogo realizado entre o preto-e-branco e o colorido é um grande trunfo utilizado para dar dimensões diferentes à vida de um anjo – eterna, mas sem cor - e a dos seres humanos – finita e cheia de problemas, mas com sensações inegavelmente coloridas.
A história de amor, que em Cidade dos Anjos parece ser o único elemento da história, aqui é trabalhada de forma mais sutil e intercalada com vários momentos dos anjos que acompanham os pensamentos das pessoas. Destacam-se os pensamentos de um senhor bem idoso chamado Homero, que todo o tempo desabafa a impossibilidade de contar suas histórias, já que agora todos preferem lê-las – homenagem clara ao Homero grego.
É também Homero que, dentro e fora da biblioteca onde se passam vários momentos do filme, faz reflexões acerca de Berlim, cidade onde se passa a história. A cidade, fortemente atingida por ter sido palco da Segunda Guerra, é mais um dos ricos temas desenvolvidos na película. Em algumas cenas, inclusive, são exibidas partes de documentários que retratam a guerra e a Berlim pós-guerra. Mais um elemento que ao encontrou espaço na adaptação hollywoodiana.
O amor impossível se torna apenas uma metáfora uma vez que, através da escolha feita pelo anjo entre a imortalidade e a humanidade, Wenders desenvolve a principal temática do filme: o conflito humano.
É triste ver como Cidade dos Anjos não captou a essência de Asas do Desejo... Após ver Asas do Desejo, a única forma de pensar em Cidade dos Anjos como menos que um desastre é encará-los como filmes completamente independentes. Se é que isso é possível.