quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Maravilha do "velho" cinema...

Carta de uma desconhecida (Letter from an Unknown Woman, 1948)
Dir: Max Ophüls




Carta de uma desconhecida, do diretor Max Olphüs , desperta nos amantes do cinema, no mínimo, uma grande nostalgia do que já foi o cinema. O cinema dos grandes clássicos, dos filmes que faziam chorar sem romantismo barato e histórias adolescentes e que levavam o público a se levantar das poltronas para aplaudir.

O filme se desenrola a partir de uma carta recebida pelo pianista Stefan Brand (Louis Jourdan), na qual Lisa (Joan Fontaine) conta uma história de amor que desperta em Stefan várias memórias. A partir de então, somos levados por um flashback no qual Lisa, narradora e protagonista, nos conduz pelos detalhes de sua paixão e nos torna confidentes e plenos conhecedores dos fatos e sentimentos envolvidos.
O romantismo é tão explorado e as situações encaradas por ela são de um amor tão entregue que, de fato, ficamos extasiados e passamos a compartilhar de todas as sensações de Lisa. Desde a vontade de que o amor se concretize, até o ódio nos momentos em que se revelam as fraquezas de Stefan – com o diferencial de que ela o perdoa sempre mais rápido do que nós que assistimos.

A verdade é que, contada sob a perspectiva de Lisa – ilusões e sentimentos dela – a narrativa se torna uma arma nas mãos da personagem, que se aproveita da condição de “dona da história” para cativar o expectador e o faz muito bem! Analisando friamente, sem toda a euforia que nos envolve no momento “pós-filme”, é tão nobre assim que uma mulher passe por cima de tudo, todos e de si mesma por um amor?













Lisa nos convence que sim e seu amor justifica pra ela e pra nós – cúmplices e apoiadores da história- qualquer atitude. Queremos forçar Stefan a olhar pra Lisa como se o sentimento dela fosse tão grande que o obrigasse a perceber e corresponder, mas o preceito básico de um sentimento de verdade não seria justamente não gerar obrigações?

Por fim, a carta que, à primeira vista é meramente um objeto de despedida, pode ser interpretada também como meio usado por Lisa para enfim conseguir a atenção que Stefan não dispensou a ela durante todo o tempo. A carta foi uma idéia romântica, sim, mas também inteligente, já que ele a partir dali teria duas escolhas: sofrer de remorso pela lembrança do que significou pra ela ou morrer como forma de redenção. O desfecho não deixa certezas, mas fica a sensação de que ao menos uma vez o amor de Lisa valeu à pena.

O filme é lindo, tocante, cinema de verdade e o fato de Lisa ter me enganado tão bem o deixou ainda mais interessante e bem feito. Palmas para Max Ophüls! Uma bela obra do cinema.

10 comentários:

Unknown disse...

Esse filme eu não conhecia. Pareceu-me bem interessante.

E aproveitando esse lance de Lisa, carta, amor etc, fica a sugestão de um filme sensacional, que ainda me provoca arrepios anos após tê-lo visto. Não sei se você já viu, trata-se de "Com amor, Lisa". É sobre um sujeito que vê sua vida desabar ao encontrar uma carta suicida em cima do travesseiro da sua falecida esposa. A carta é o objeto cênico principal. Muito bom, com o Philip Seymour Hoffman em um de seus melhores momentos.

Bjs.

Anônimo disse...

oi dede,
falando com esse entusiasmo do filme num tem como nao querer assistir...se td esse romantismo q vc disse se confirmar no filme entao posso ter certeza q vou gostar
parabens pelo post
xauzin

Alex Gonçalves disse...

Andressa, só nos grandes clássicos, não?
Li muitos comentários sobre "Cartas de Uma Desconhecida", que sempre foram finalizados com um nota dez. Tenho uma enorme vontade de ver o filme, mas nunca o encontrei, ainda que fora lançado em DVD por aqui.

Ah, notei a sua lista de filmes vistos recentemente. Gostou de "Louca Obsessão"? Depois de "Carrie - A Estranha", é o meu filme predileto baseado em uma obra de Stephen King.

Beijos, tenha um grande final de semana.

Wiliam Domingos disse...

Ah que pena...não vi o filme! Nem conhecia!
Ótimo saber! Grande dica clássica...
Seu texto está deslumbrante...discutiu muito bem os sentimentos que sentiu, despertou vontade em mim de ver tb!
Ainda mais lendo seu texto ao som de Hallelujah, direto da rádio cinéfilia!
rsrsrsrsrs

Dêee....
como q chama aquele filme que o cara parece o Damien!???
Vc lembra!?
beeijooo!

Ronald Perrone disse...

Belíssimo filme...

Wallace Andrioli Guedes disse...

Não conhecia esse filme, até ler uma crítica muito positiva na SET. Agora seu texto também foi bastante elogioso. Acho que terei de incluí-lo na lista dos filmes que tenho que assistir. O difícil vai ser achá-lo. Mas não custa tentar ...
Postei no blog sobre um filme que havia assistido há algum tempo e que agora revi e me apaixonei totalmente: Touro Indomável. Dá uma olhada lá ...

Kamila disse...

Não conhecia o filme, mas adorei a resenha. Vou tentar encontrar o filme.

Anônimo disse...

interessante, vou procurar.

Gustavo H.R. disse...

Sem dúvida, deve ser mesmo lindo. Ophüls é um cineasta que ainda tenho de descobrir. Poucos são aqueles que sabem explorar o romantismo de maneira refinada, sem cair na meleira usual.

Anônimo disse...

O começo do filme é interessante, impressiona pela leitura da carta de uma morta. Mas a história em si é, por vezes, maçante: uma mulher perdidamente apaixonada por seu vizinho, que não está nem aí pra ela. Ou que vai lá, traça a mulherzinha, a deixa felizinha, depois nem se lembra dela - mais uma pra lista - e ela morre jurando que ele ainda pode querer algo. Para a época do filme (por volta de 1950), deve ter sido um avanço tratar de um 'fora' assim. Talvez eu já esteja acostumado a ver histórias parecidas.
Enfim, o filme é melado e não me encantou em nada. Uma carta narrada para embalar anseios femininos de amor eterno.