sexta-feira, 20 de julho de 2007

Amores parisienses

Paris, Te Amo (Paris, Je T'aime; FRA, ALE, SUI; 2006)
Cotação: 7/10



Pegue 22 talentosos cineastas de países diferentes, jogue-os na bela e apaixonante Paris e lhes peça que filmem uma curta história de amor. O resultado é um filme agradável com a maioria das histórias acima da média, principalmente se levarmos em consideração o pouco espaço de tempo que cada diretor tinha (os segmentos têm em média cinco minutos). E a própria idéia de reunir pessoas com visão e estilo diferentes com liberdade total para criar já é interessante por si só.

Composto por 18 curtas que recebem nomes de bairros e locais da capital francesa, Paris, Te Amo é um filme leve e, claro, diverso, mas que consegue se manter coeso e fiel à proposta original. As situações são as mais diversas: alegre, melancólicas, engraçadas, assustadoras. Amores se perdem, se transformam, resistem ao tempo; outros, à espera de concretização.











O filme começa mediano, mas vai se encontrando aos poucos. Montmartre abre o longa e sugere um encontro inusitado entre um sujeito angustiado e solitário com uma mulher que desmaia ao lado de seu caro. A diretora queniana Gurinder Chadha faz um jovem francês se enamorar por uma garota mulçumana, deixando clara a idéia de tolerância com a jovem em defesa de sua fé e os hábitos de sua religião. O humor irônico, inteligente e nonsense dos irmãos Coen surge com um Steve Buscemi, com cara de pateta, passando por maus bocados numa estação de metrô. Já Gus Van Sant, com muita simplicidade e sem exageros estéticos, nos dá a possibilidade de um relacionamento entre dois rapazes com uma surpresinha no fim, engraçada e interessante.

Como se trata de um filme episódico, há sempre alguns segmentos decepcionantes. Walter Salles (ele mesmo que eu adoro) em parceria com Daniela Thomas conta a luta de uma babá (Catalina Sandino Moreno) que precisa deixar seu filho numa creche para cuidar de outra criança. Ao fim, fica a sensação de que a história foi pouco aproveitada, embora seja muito bem dirigida. Mas até agora não sei como um curta tão idiota como Porte de Choisy, de Christopher Doyle foi parar aqui. O encontro entre uma modelo chinesa e um vendedor de produtos de beleza é totalmente dispensável e de mau gosto.

Maggie Gyllenhall está ótima na pele da atriz norte-americana viciada, filmada com a câmera nervosa de Olivier Assayas. Já a excelente Juliette Binoche é desperdiçada em Places des Victoires vivendo uma mãe que perdeu seu filho recentemente, numa história lúdica de superação; pena que os dois curtas não são tão bons quanto bem atuados. Lúdico mesmo é a história do mímico solitário que busca uma parceira pelas ruas de Paris e vai encontrar seu amor numa prisão. Em outro estranho ambiente, um clube de striptease, um casal em crise tenta acender a chama do amor, contando com a
presença em cena dos ótimos Fanny Ardant e Bob Hoskins.

Há algo de melancolicamente belo na história de um homem que precisa estar ao lado de sua mulher num momento difícil e precisa aprender a se reapaixonar por ela. Há também algo de cinicamente oculto no segmento enfocando o casal que decide se separar, mas deixa evidente o desentendimento entre ambos, mesmo que sutilmente (ótimos desempenhos de Ben Gazzarra e Gena Rowlands). Ambos os curtas são muito bem escritos, com texto elegante e enxuto. Pelo contrário, em Quartier de la Madeleine, não se diz uma palavra, mas Vincenzo Natali constrói muito bem o encontro bizarro de um garoto (Elijah Wood) com uma vampira.

Alfonso Cuarón, em um único plano-sequência, conta com simplicidade o bem-humorado encontro entre pai e filha, com direito a surpresa no final. Place de Fêtes, do africano Olivier Schmitz, por sua vez, é um interessante quebra-cabeça cujas peças vão dando conta do encontro fatídico entre um acidentado e uma enfermeira afro-descendentes de forma tocante. Wes Craven, acostumado a filmes de terror, surpreende com a discussão da relação de um jovem casal num cemitério, com direito a fantasma de Oscar Wilde (vivido por Alexander Payne). Mas é o diretor alemão Tom Tykwer quem cria um dos melhores segmentos do filme, com um rapaz cego cuja namorada (Natalie Portman, linda) decide romper o namoro. Passa, então, por sua cabeça todos os momentos bons por que passaram juntos. Esse me fez pensar o quanto é importante dar valor as coisas que temos antes que seja tarde demais.




E para finalizar o projeto, nada melhor que o melhor. Paris, Te Amo deixa para o final uma pequena pérola, em meio a tanta coisa boa. Alexander Payne, de forma primorosa, dá vida às peripécias de uma turista norte-americana um tanto burrinha. Primeiro, com alívio cômico (é hilária a cena em que ela visita o túmulo de Sartre), além de outras tiradas inteligentes, para no fim revelar a descoberta do amor de sua personagem pela cidade de forma simples e ao mesmo tempo tocante. É a celebração do amor em seu estado mais puro.


E aí, por qual deles vocês se apaixonaram mais?

Postado por Rafael Carvalho

12 comentários:

Anônimo disse...

Todos os blogs postaram sobre essa produção ou é impressão minha?

de qualquer forma, os coment. andam sendo positivos.

se der aparece la no blog para participar de uma votação para o préximo prêmio cafeteria, ok?
abraços!

Unknown disse...

Primeiramente, posso dizer que este entou para o hall de filmes que masi me impresionou.
Mas é o diretor alemão Tom Tykwer, com seu casal de jovens, simplesmente me deixou pasmo. Excelente curta o dele e se for para eleger... o melhor dos curtas do filmes, sem hesitações... O apontaria!!!

Abraços... e um bom texto o do blog.

Anônimo disse...

OBA!!!!!!!!

Tava com saudades das postagens do cinematógrafo XXI !!!!

Belo texto Rafael, fiquei com vontade de assistr o filme!

Anônimo disse...

Rafael, para mim os melhores curtas da seleção foram o do mímico, o do Alexander Payne (da americana que falava um péssimo francês e o do africano que está morrendo e reencontra a para médica por quem se apaixonou. Achei também o curta do Walter Salles e da Daniela Thomas muito fraco. Achei Paris, Te Amo bem superior a Crianças Invisíveis (que trabalha nesse formato também). Me disseram num blog que estão pra produzir um sobre a cidade de Tóquio (quem faria um dos curtas seria o diretor de Host: O Hospedeiro; e ouvi falar também que o Johnnie To, de Exilados e Eleição também está interessado em dirigir um).

(http://claque-te.blogspot.com): Últimos Dias, de Gus Van Sant.

Anônimo disse...

Pois é Roberto, o curta do Alexander Payne é sensacional. Já Crianças Invisíveis eu não vi ainda, vi 11 de Setembro que também reune curtas de vários diretores, só que sobre os atentados às Torres Gêmeas. Mas é um pouco irregular. E parece que vão fazer um projeto do mesmo estilo episódico sobre Tóquio e Nova York; pelo jeito o da cidade japonesa será o próximo e o nome do Bong Joon-ho me anima muito. Já o trabalho do Johnnie To eu não conheço. Valeu!!!!

Alex Gonçalves disse...

“Paris, Te Amo” deve ser uma experiência única e marcante, estou louco para ver. De todos os curtos seguimentos, os que mais estou curioso de ver são dos cineastas Wes Craven, Alexander Paine, e Isabel Coixet. Uma pena não ter estreado por aqui em Santo André...

Wanderley Teixeira disse...

Já deve saber que os meus preferido são o "Torre Eiffel" protagonizado pelos mímicos,o protagonizado por Elijah Wood,o de Walter Salles e Daniela Thomas com Catalina Sandino Moreno e o de Alexander Payne,excelente escolha para fechar o longa.
Com relação a Porte de Choisy tb achei de extremo mal gosto e perceba q todos os curtas naum tem necessariamente o mesmo tom mas se complementam,este pelo contrário parece se distanciar totalmente da proposta.Christopher Doyle quis estilizar o q pode ser feito de forma simples como Cuaron e Payne fizeram.

Ronald Perrone disse...

Putz... infelizmente ainda não vi esse filme.. .tô louco pra ver... abraços!

Marfil disse...

Entre altos e Baixos, o filme têm excelentes curtas. O dos irmão Coen e o de Payne são estraordinarios!

Wiliam Domingos disse...

O Nóbrega se enganou, eu ainda não postei sobre este filme...rsrsrs
mas acho que quase todos já postaram, o que me faz ter mais vontade ainda de assistir!
Eu amo Paris! Apesar de nunca ter ido (ainda) é um lugar apaixonante só de pensar...
O filme deve ser um ótimo conteúdo túristico e cinematográfico!
Quero ver...
Abraço

Anônimo disse...

Ainda não assisti Paris te amo,mas a curiosidade só vem crescido com as boas criticas e as caracteristicas peculiares que já atraem por si só .
Quando assisti ao filme ,expresso a minha opinião quase que definitiva.

Anônimo disse...

Gostei desse filme. Apesar de alguns segmentos bem fracos (aquele da modelo chinesa é mesmo um horror), vale a pena por certas pérolas como o maravilhoso curto do Alexander Payner (sem dúvida o melhor).

Na verdade me apaixonei mais por dois. O do Gus Van Sant é excepcional e o final muito bacana e inesperado (me deixou com um sorriso no rosto). O outro é o do Tom Tykwer, que funciona tão bem quanto uma bela canção.