segunda-feira, 30 de julho de 2007

Visita ao Irã

Há algum tempo o cinema feito no Irã ganhou prestígio ao redor do mundo através de realizadores como Abbas Kiarostami, Mohsen Makhmalbaf, Majid Majidi e outros que estavam e ainda estão sempre presentes nos maiores e melhores festivais de cinema do planeta. Um desses grandes diretores é Jafar Panahi, que com seu estilo seco e objetivo, capta as contradições e mazelas de seu país. É dele os três filmes comentados abaixo que tive a oportunidade de ver recentemente e me admirei com sua qualidade em retratar os dramas pessoais daquele povo, imerso nunca cultura tão diferente da nossa.


O Círculo (Dayereh, IRA, 2000)


Com esse filme (Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2000), o diretor constrói um interessante exercício de estilo ao narrar a história de mulheres que saíram da prisão e precisam ser aceitas de volta na sociedade. A partir daí, o filme vai nos apresentando a outras personagens, cada qual com seus dramas, formando um círculo vicioso de degradação humana. Assim, a figura feminina, com sua fragilidade exposta num país que a reprime ao extremo, é o centro de discussão do longa. É angustiante ver aquelas personagens jogadas à própria sorte enquanto buscam uma direção a tomar. A história deixa sim muitas questões sem explicação exata, mas me parece ser um filme de perguntas, não respostas, com a evidente intenção de tocar numa ferida. E garanto que é uma experiência das mais gratificantes.


Ouro Carmim (Talaye Sorkh, IRA, 2002)


Ouro Carmim é uma narrativa sutil tendo como figura central um homem que vive do roubo durante o dia e à noite entrega pizzas nos bairros mais luxuosos da capital Teerã. A partir daí, Panahi escancara as diferenças entre ricos e pobres e ainda ataca o sistema político controlado pelo regime autoritário dos aiatolás. O filme começa com uma cena de roubo seguida do suicídio do próprio ladrão. A seguir, acompanharemos os fatos que levaram àquela situação. Há cenas longas que podem parecer chatas, mas se revelam bastante significativas para a história, como a seqüência da entrega de pizzas numa festa ou a quase surreal visita a um suntuoso apartamento. Momentos assim nos deixam estarrecidos pelo inusitado da situação e agraciados com o talento do diretor.


Fora do Jogo (Offside, IRA, 2006)


Lançado esse ano nos cinemas brasileiros, Fora do Jogo continua investindo na figura feminina, mas agora é também sobre a paixão ao futebol. Durante as eliminatórias para a Copa de 2006, a equipe do Irã briga por uma vaga no Mundial. Acompanhamos, assim, a história de algumas garotas, apaixonadas pelo esporte, que querem muito ver a partida, mas são barradas já que mulheres não são permitidas em estádios. Com um tom levemente documental, Panahi fez aqui um filme mais leve, embora não deixe de alfinetar o sistema, mais uma vez discutindo o papel da mulher em sua sociedade; e é através delas que testemunhamos, com alegria, a alegria de um povo diante de uma vitória.


Postado por Rafael Carvalho

2 comentários:

Dr Johnny Strangelove disse...

Filme Iraniano é dificil de se assistir ... porém quando se ver com a sensibilidade e um olhar especial, não apenas vimos meros filmes, mas experiencias humanas magnificas...

e veja Filhos do Paraiso e A Maça, são ótimos filmes
abraços

Anônimo disse...

Acho que nunca vi mais de um filme iraniano (gostei muito de "Filhos do Paraíso"), mas sem dúvida é um cinema que vem alcançando seu reconhecimento. Boas dicas!