sábado, 8 de dezembro de 2007

Bagdad café

Esse texto foi produzido para a matéria Crítica Cinematográfica. Infelizmente o professor definiu que a crítica deveria ser estruturalista: missão bem difícil quando se trata de um filme tão belo e emocional como Bagdad Café.

Bagdad Café, do diretor Percy Adlon, é um clássico do cinema europeu que, apesar de datar de 1987, é atual e, me arriscaria a dizer, atemporal. Com um roteiro que mescla simplicidade e surrealismo, conta a história de Jasmim, uma mulher que abandona o marido após discussão e encontra no meio da estrada uma espécie de lanchonete, posto de gasolina e hospedaria que levam o nome do filme.

A estranha, que inicialmente é alvo da personalidade forte de Brenda, dona do bar, conquista espaço aos poucos e acaba levando alegria e mágica ao ambiente, antes austero, do Bagdad Café.
Logo no início da trama, chamam a atenção as câmeras posicionadas de maneira irregular que dão a sensação de desequilíbrio e conflito durante a briga de Jasmin com o marido. Já os closes são utilizados em diversos momentos da película, destacando objetos dos mais inusitados, principalmente as peças chamativas e ostensivas dos figurinos das personagens- como colares, botas e fivelas.

Há também cenas de estilo surreal e, logo, de difícil interpretação, deixando margem para questionamentos acerca da veracidade de alguns momentos da história. O diretor utiliza, por exemplo, por diversas vezes a imagem de um rapaz jogando um bumerangue. É provavelmente uma metáfora sobre a vida, que pode gerar múltiplas interpretações, mas pode também ser encarada pelo espectador simplesmente como um momento de pura beleza do filme.

A trilha sonora merece destaque. Explora principalmente a música “Calling You”- indicada ao Oscar de Melhor Canção Original, uma espécie de lamúria melancólica e profunda que reflete perfeitamente o clima de solidão do deserto e das personagens de Bagdá Café. Todas as vezes que o filho de Brenda tenta quebrar esse clima com uma canção alegre ao piano, a mulher o impede de tocar, deixando a sensação de que não há espaço pra sentimentos harmoniosos naquele lugar. Mas é com “Brenda, Brenda” que o filme encontra seu ápice tanto na trilha sonora, quanto no enredo. A animada canção é executada em uma espécie de musical dentro da trama e soa como a resposta para as transformações realizadas por Jasmin na vida de todos que freqüentam o local, mas principalmente na vida de Brenda.


No entanto, são nas interpretações que o filme encontra sustento do início ao fim. Marianne Sägebrecht confere uma humanidade tão grande à Jasmin que fica difícil definir o que exatamente nos cativa nela. Já CCH Pounder faz uma Brenda na medida: que sabe irritar de tão rude e gritona, mostra vergonha ao reconhecer os deslizes (como toda pessoa grosseira que se preze) e se transforma em outra quando se depara com a felicidade.

Um filme simples, tocante e para se refletir sobre o efeito que as pessoas causam em nossas vidas e sobre que efeito causamos nelas.

Vídeo pra quem já assistiu matar as saudades!