sábado, 7 de abril de 2007

Gente do Pelô

Ó Pai, Ó (Idem, 2007)
Dir: Monique Gardenberg
Cotação: 7/10



No último dia de Carnaval em Salvador, a dona de um cortiço no Pelourinho corta a água do local por falta de pagamento do aluguel. A confusão que se forma pelos moradores é só mais uma diante dos perrengues e situações que cada um tem para contar. Talvez isso tudo seja somente um pretexto para que a diretora Monique Gardenberg (Benjamim) mostre um pouco da vida dessa gente. Na realidade, os personagens são tipos, pessoas comuns e populares naquele local. O filme, então, é uma celebração do povo do Pelô, que tem o seu dialeto próprio, sua identidade como um estilo de vida.

E é aqui que surge o maior problema do filme: a caracterização dos personagens se mostra um tanto carregada. Realmente, as pessoas daquele local falam de forma arrastada, são desbocadas, escrachadas e têm um molejo natural no corpo, sim. Mas chega um momento que isso parece vir de graça, só pela simples necessidade de existir na tela.

Mesmo assim, o filme se aproveita desses personagens para construir uma crítica social interessante sobre aquele meio. As religiões que não se entendem (aqui nem as igrejas evangélicas nem o candomblé são poupados), o problema do racismo que ainda persiste, a prostituição que ganha espaço não só local, mas também no exterior, a tentativa de muitos que querem seguir carreira musical na terra do axé e sonham com o sucesso (será que consiguirão?), a mulher que tem um monte de filhos em casa, mas pratica abortos clandestinos, o homossexualismo assumido ou não, a ilegalidade do trabalho informal. E essa crítica toda se acentua ainda mais em contraste com a folia carnavalesca (o final, então, nos deixa algo para refletir).

O time de atores também faz bonito em cena. Nem é preciso mais comentar a sempre ótima atuação de Lázaro Ramos. Mas a surpresa vem por conta dos rostos novos, a maioria do Bando de Teatro do Olodum, e não decepcionam. Destaque para Luciana Souza, que interpreta Joana, dona do cortiço e evangélica fervorosa, e para o travesti de Lyu Arrison, Yolanda . Wagner Moura, infelizmente, aparece num personagem por demais carregado, se mostrando quase dispensável.

As cenas musicais (que contagiam até mesmo aqueles que não curtem o axé) surgem com uma naturalidade muito agradável, já que esse fervor musical parece brotar da alma daquele povo. Povo que pena, mas que não abre mão da folia.


PS: Vale a pena conferir o ótimo comentário que o colega Chuchu (vulgo Ailton Fernandes) fez em seu blog sobre o filme. Recomendadíssimo.

Postado por Rafael Carvalho

8 comentários:

Unknown disse...

Rafa... pensei que vc ía detonar o filme, gostei do seu texto e concordo com a nota, adorei a confissão: "contagiam até mesmo aqueles que não curtem o axé"

veja o q eu escrevi sobre o filme: http://tratoseretardos.blogspot.com/

abraço

Wiliam Domingos disse...

Eu quero muito ver este filme...
adoro ver mistura da música, dança com o cinema!
Dizem que Lázaro Ramos arrasou!
já linkei o blog, vlw por add o meu tb...
aparece no blog, estou falando sobre o filme "Elefante"!
Abraço

Anônimo disse...

Gostei muito do trailer desse filme, a trilha sonora me pareceu demais. E parece que tem umas boas sacadas ("cuspi no chão e quando secar quero todo mundo fora daqui"). Quero ver.

abs!

Anônimo disse...

O filme mostra alguns personagens típicos de SSA, mas de maneira caricaturada, com um certo exagero até.A atuação do Lázaro Ramos sem comentários, muito boa.Já o personagem de Vágner Moura começou bem ,aquela chegada com o som do carro nas alturas foi ótima, mas no final achei q o personagem ficou meu perdido na trama.Bem, o filme é legal.REcomendo!Produção baiana temos q prestigiar.

r. disse...

gostei. me assustei com os primeiros dois filmes, achando que só tinha filme comercial, mesmo você descordando que "ó paí ó" seja comercial e que "300" "é FRANK MILLER".
mas o resto compensou.

Túlio Moreira disse...

Opa, Andressa, valeu demais pela visita lá no blog... Tô sempre aqui!

bjão!

Anônimo disse...

Quando eu fui assistir ao filme, a primeira coisa que me falaram foi: olha, os personagens são bem caricaturados.

Não sei se concordo com isso pois assisti fazendo sempre um paralelo com as minhas férias de carnaval que eu passava na praia. E é aquilo alí mesmo que eu vejo, volumes de sons exageradamente altos, falta de água, brigas, alegrias... Então para mim não seria uma caricatura, mas atuações exageradas, lembrado as de personagens de chanchadas ou de seriados humorísticos de tv, talvez para aliviar um pouco dos dramas passados no filme.
O roteiro as vezes se perde, mas daria conta do recado se não tivesse um desfecho tão previsível.
Destaque para a parte técnica, principalmente a fotgrafia, que não fica devendo nada filmes estrangeiros e a crítica social já citada por Rafael.

=D

Anônimo disse...

Rafa, concordo com a nota amigo!Assisti ao filme rsrs Gostei muito da temática, pouco explorada até então em filmes nacionais. Mesmo num apelo um pouco exagerado dos tipos(que não acho que seja tanto assim)o filme consegue estabelecer um paralelo que rende uma compensadora relexão acerca do modo de vida baiano. Valeu a pena os 5 reais pagos! A Bahia é com certeza bem mais que carnaval, música, sexo, problemas socias, só que também tem muito isso e é uma marca que não pode ser desconsiderada.Ablaços.