sábado, 19 de maio de 2007

Sexo e política. No meio disso tudo, cinema

Os Sonhadores (The Dreamers, 2003)
Dir: Bernardo Bertolucci
Cotação: 8/10


Política e sexo. Mais sexo que política (mais ela está lá). E no meio disso tudo o diretor italiano Bernardo Bertolucci aproveita para exercitar sua porção cinéfila ao nos brindar com algumas referências a clássicos do cinema. Depois de ver o filme a vontade é de correr na locadora à procura de Truffaut, Godard, Chabrol, Renoir, Nicholas Ray, entre tantos.

Em Paris, o estudante norte-americano Matthew (Michael Pitt) conhece os irmãos gêmeos Isabelle (Eva Green, linda) e Theo (Louis Garrel) criando com eles uma estranha amizade que logo se transformará em tensão (e deleite) sexual. Além disso, estamos em Maio de 68, período movimentado por manifestações revolucionárias de caráter comunista.

O que talvez mais importe ao cineasta não são os questionamentos políticos ou o retrato de uma época em ebulição, antes o desenvolvimento de seus personagens; a partir daí ele discutirá aquele momento que serve de pano de fundo para a história. O jovem Matthew vai entrar no mundo arbitrário, incestuoso e cinéfilo do liberal casal de irmãos. Primeiro, torna-se refém de ambos para depois visualizar a ingenuidade e inocência de suas vidas. Isa, no seu atrevimento, nada mais é do que uma garotinha, virgem. Theo defende Mao e a revolução, mas fica o tempo todo trancado no apartamento enquanto Paris explode lá fora. O cinema é a paixão que une o trio.

Já no fim do filme, somente quando uma pedra quebra a janela da sala onde os três juntos dormem numa cabaninha improvisada, é que eles despertam ativamente para a manifestação que acontece fora de seu mundinho particular. Segundo Isa foi "a rua que entrou na casa". (Me pergunto o que seria caso a pedra não fosse atirada). Então, os pontos de vista dos personagens entram em conflito e a linha que une o trio se rompe inevitavelmente.

Nota-se que a carga sexual é bastante presente, servindo para causar alvoroço ao redor do longa como também para acusar o filme de carregado e politicamente vazio. Mas os questionamentos pessoais e políticos estão lá, basta uma observação atenta para perceber. Há também momentos de humor além da brincadeira cinéfila de incluir cenas de filmes clássicos que condizem com as situações vividas pelos personagens.

E tudo isso nos é mostrado com uma beleza visual que só poderia ser concebida por um autor. São várias as cenas que ficam na memória: a despedida de Isa depois do jantar quando seu cabelo pega fogo (totalmente sugestivo), as cenas na banheira e o jogo de espelhos, Isa de Vênus de Milo e a mensagem política da seqüência final. É claro que o elenco ajuda bastante nesse quesito com destaque para uma Eva Green que, além de ser um colírio para os olhos, confere sensualidade e ingenuidade na medida certa. Quando será que o Bertolucci vai lançar um novo filme?

Postado por Rafael Carvalho

10 comentários:

Wiliam Domingos disse...

Eu ainda fui mais além na nota, dei 9.0!
Este é um dos meus filmes preferidos, é explosivo na sensualidade das cenas e nas narrativas políticas que envolvem qualquer um...
A presença constante do sexo não é apenas algo a mais, pois na época retratada a politica e o sexo eram coisas que estavam burbulhando....enfim, aquele lance cultural!
Eu achei as referências de filmes magnificas, inclusive conheci "Freaks" vendo "Os Sonhadores"!
Ótimo filme....espero o próximo de Bertolucci...
abraço

Alex Gonçalves disse...

Não entendo a postura de alguns críticos especializados em não gostar como se espera deste filme “Os Sonhadores”. Houve as suas falhas, especialmente na relação sexual do trio central, que num determinado tempo causa cansaço. Mas no fim das contas é uma bela homenagem ao cinema, o que cinéfilo algum poderia detestar.

Ronald Perrone disse...

Sou dos que defendem o filme também... não é o melhor do Bertolucci (longe de ser), mas é uma homenagem ao bom e velho cinema clássico. Agora, se querem ver Bertolucci de verdade, vai aí umas dicas, se é que tenho o direito de dar: O Conformista, O Ultimo Tango em Paris e La Luna, os melhores filmes dele na minha opinião.
Abraços!

Dr Johnny Strangelove disse...

Eva Green ... eeheheheh
rapaz, existe uma relação de amor e ódio com esse filme ... quer ver eu quero.

um dia irei falar se esse filme é bom ou não ...

mas Bertolucci faz falta no cinema atual ...

Gustavo H.R. disse...

É, esse foi um que dividiu a crítica, lembro-me das divergências na época do lançamento. Ainda não vi, mas parece interessante o seu lado de homenagem ao cinema.

Cumps.

Társis Valentim Pinchemel disse...

gostei do comentário, entrou para a lista de filmes para ver.


pra quem se interessa acho tem um filme correlato, que inclusive usa o mesmo pano de fundo para para, dessa vez, falar mais de política do que qualquer outra coisa: Edukators - Os Educadores

é isso!

Anônimo disse...

É Wiliam, as vezes é um pouco complicado dar uma nota a um filme, esse ficou entre o 8 e 9, mas me decidi pelo 8. Acho que o Bertolucci tem muita coisa boa.

E também não entendi, Alex, porque grande parte da crítica fez cara feia para esse belo filme. Não é sempre que aparece um desses, não.

Ronald, suas indicações serão sempre bem vindas. E falando nisso, quero muito ver do Bertolucci O Último Imperador.

E Tarsis, vale muito a pena reservar um tempo para ver esse filme. E sua indicação também é outro ótimo exemplar de bom cinema. Valeu pela visita.

Abraço a todos!

Anônimo disse...

Ótimo comentário!Daria um 9 ao filme. Muito bom.Triânugulo amoroso bastante bem arquitetado e questões políticas não ficam ofuscadas com a história que se passa dentro da casa.No DVD tem um extra que é um mini-documentário que é bastante interessante ver e perceber/entender algumas cenas do filme.Novamente, parabéns pelo blog,pelo seu texto e pelo bom gosto!

Anônimo disse...

Bom demais, até agora não passou a vontade de ver o filme mais um monte de vezes! ahahah


Já garanti meu dvd! =P

Anônimo disse...

Прикольная новость, как скоро ожидается публикации свежего материала и вообще стоит ждать ?